segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Vivente não morreu!



Comentário: 
"O Vivente não morreu!"
                                                     por Altair de Oliveira


O poema a seguir parece ter sido feito meramente para explicar a angústia de quem vive, de quem é presa da vida e sonha viver livre dentro dela. Mas a resposta pode ser ainda mais simples, o poeta pode apenas ter tentado buscar desculpas para enfrentar o seu próprio medo da morte.  Religiosos e fideístas poderiam argutamente dizer "oras é simplesmente alguém tentanto encontrar o seu Deus e sua salvação!", mas seriam aqui suposições, pois o poema não trata disto.  Antes de buscar uma saída gloriosa ou até mesmo conquistar uma posição de distinção de destaque na vida, o poema cisma e cisca nas limitações humanas e parece nos tentar dizer que por mais que se acredite ou se dite, não há mesmo como ir muito além de seu próximo e graduar-se  em poderes, ou entendimentos, ou imortalidades, ou ainda autoeleger-se um Deus ou Semi-Deus.

Levantado de uma imagem provocada pelo soneto "Caravelas", de Florbela Espanca, a ideia do poema caminhou comigo por mais de 10 anos  até que, no ano passado, sabendo que o Prêmio Literário OFF-FLIP, de Parati, "daria" com parte da prêmiação a hospedagem aos 3 primeiros lugares de cada categoria e de seus companhantes, e vendo ali a oportunidade única para um poeta desempregado como eu participar de tão sonhada festa literária, eu decidi compor o poema para participar do concurso.  Na verdade eu acreditava mesmo que tinha chances de papar uma das 3 cadeiras premiadas na mesa da festa de Parati, por isso me tranquei por 2 semanas em casa para escrever o poema e me esforcei para juntar os quase 80 reais que o prêmio exigia para o aspirante a premiado inscrever-se.  O poema consta de 6 estrofes de 6 versos, fechadas em si mesmas. Cada uma destas estrofes tem um ritmo próprio, o  que sugere um cenário próprio ou ainda uma tentativa diferente de se esquivar da morte, esta características  as tornam independentes e permitem que sejam lidas em separado, sem grandes perdas de significação.  Espero e conto com que vocês possam curtir o poema.

Quanto o resultado do concurso literário OFF-FLIP do ano passado, o poema "O Vivente" infelizmente não conseguiu passar da primeira fase da classificação, onde os 20 melhores seriam selecionados,  e foi eliminado pelo jurí.  Mas, felizmente,  como seu próprio nome  bem diz, ele não morreu, faz parte de meu quinto livro de poemas "A Grande Coisa", que deverá ser editado no segundo semestre de 2013!
    ***

O Poema:


O VIVENTE



 - I -

Se encontra à meia vida já vencida
Reconta as magras contas conquistadas
Se espanta ante a soma conseguida:
um nada mediante a tão sonhada!
Assombra até as sombras mais chegadas
tentando vislumbrar uma saída.

 - II -

Sua história, que era  vívida, se transforma
e, aos poucos,  toma forma de vivida.
O antigo jovem a ele se deforma
e o que vira predador vira comida.
Vê que a vida a ele dada se conforma
em certo dia ser ao nada devolvida.

  - III -

Na rua a multidão de gente só
o vence a solidão que lhe povoa.
Mas segue o seu destino e anda à toa
fingindo procurar lugar melhor,
um lar onde rechace o  que magoa
e disfarce aquele olhar de fazer dó!

 - IV-

Retém-se ante um bar onde festejam
e espreita toda a vida que lateja,
que beija, e ri, e come,  e canta, e dança
sem lamentar queimar a própria vela.
Espera, e quem espera sempre alcança,
ou cansa de esperar...  e  desespera.

 - V -

Resiste nesta tarde que lhe passa
com ar de quem insiste alguma graça
e evita perceber o que se passa:
que não existe mesmo o que lhe basta,
que gasta ainda o ar que ainda o gasta
e que a morte que levita  não afasta!

 - VI -

Temente de não ser senhor de nada,
exuma uma alegria abreviada
e cria a sua auto-anestesia.
Alegre, alí no meio da manada,
assume ser "contente de fachada"
e esquece a mesma dor todos os  dias!


 
Poema de Altair de Oliveira - IN: "A Grande Coisa." 

2 comentários:

  1. Então, poeta lindo... Também eu vou por aí colhendo flores e tecendo sonhos enquanto lido com meu próprio medo da morte e da vida...

    "O Vivente" tem uma dor dilacerante.

    Adorei, não pela dor, mas por ser vivente!

    Beijo meu,

    Doralina, Dóra, Dóia, Dóinha...

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  2. Assume ser contente de fachada,e esquece a mesma dor todos os dias. Essa pegou na veia.É desssa forma que os dias vão passando prá um monte de gente que não encara a verdade de frente,jogando tudo prá debaixo do tapete.Adorei.

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