sábado, 5 de junho de 2010

LOU WIT - Hoje Estou Assim.


O Comentário:

"No meio da tarde me bateu um vazio, uma tristeza, dessas que chegam sem avisar e sem motivo vão rasgando o peito. E para amenizar e disfarçar a dor, escrevi este poema. " - Lou.



O Poema


HOJE ESTOU ASSIM


Pipa solta no vento

Partícula de pensamento

Palavras sem freio

Barco sem capitão


Hoje estou partida ao meio

Sem raiz nem sementes

Sem amparo e sem nascentes

Sem porto e sem direção


Hoje estou quebrada

De asas aparadas

Sem fim nem começo

Sem adereços e sem pão


Hoje estou sem juízo

Sem inferno e paraíso.

Sem preço e na contramão


Hoje sou quase nada

Vestígios de pó de fada

Anseios do coração.


Poema de Lou Witt.


Ilustração: "Pipas", de Cândido Portinari.

sábado, 15 de maio de 2010


O Comentário:

"Tantas ocasiões em minhas horas tristes, fico a indagar os propósitos de Deus.E o porque da nossa busca pela iluminação. O porque da sabedoria em meio a sofrimentos e dores. Penso, mas nunca chegarei a entender:-será que Deus nos manipula? Ou nós que não alcançamos o entendimento para nossas experiências e perdas? O que sei, é que apesar de tudo há em cada um de nós uma luz de esperança; edificada a cada novo dia que vivemos."

Dalva Contar


O Poema:


FANTOCHE

Deus se escondeu
numa labareda
em cujo fogo me espreita.
manipulando linhas
onde pendem meus braços cansados
e meu coração naufragado.
Sofro vidas que não são minhas
como membros amputados

que insistem nas formas e na dor...


Mas, eu vi

pelas águas embaçadas,

no espelho

um anjo que me fitava.

E sorria.

E um clarão de luz

a me cegar
as mágoas...

Poema de: Dalva Contar.



Ilustração II: "O Homem de Asas", trabalho da artista plástica Cláudia Santana.
O Comentário


"O Poemeto fala por si. Insight rápido e tão certeiro quanto um soco no estômago. Afeto: - cuidado - auto -preservação - pontes - delimitações -margens. deixar correr sem deixar-se levar."

Lúcia Gönczy



O Poema


afeto


não quero
cometer
um
novo
suicídio
.
.
.
cansei de morrer



Poema de Lúcia Gönczy



Ilustração: "Mistério de um Segredo", trabalho do pintor chinês LU HONG.

sábado, 17 de abril de 2010

Naufragânsia

O Comentário:

Usado aqui a chamada "falsa-sprezzatura" para tentar traduzir, de uma forma singela, um sentimento de mundo calcado no vir-a-ser. Nadar é o verbo primordial daquele que, vindo do nada, quer ser. Por isso, esta ânsia de buscar saídas, ter um destino ou alcançar um lugar onde possa configurar-se e estabelecer seu mínimo reinado.
O poema é portanto um lance de descrever esta agonia de náufrago do ser que busca e que nada e nada... e nada!



O Poema:


NAUFRAGÂNSIA


Sofre de falta de espaço

Vive buscando um lugar

E nada contra correntes

Tentando não se afogar.


Enxerga certos receios

Que mata, mas ressuscitam...

Tenta por todos os meios

Chegar nalguma saída!


Rumina restos de sonhos

Guardados para mostrar

Se é que há porto onde ir

E, de fato, um dia chegar...



Altair de Oliveira, In: O Lento Alento.



Ilustração: trabalho de Larissa Marques, artista plástica e poeta goiana.